domingo, 27 de março de 2011

pequena poesia

que as palavras são
parcas

as lembranças são
prova

e só me ocorre esgueirar uma
dúvida sem
fim

numa pergunta sem demora

- E agora?

sábado, 19 de março de 2011

Das companhias acéticas de amor II

Tem sempre uma japonesa no amor dos outros. Vai ver é porque elas são exatas, nem todas. Umas são bagunçadas e espinhentas como o resto de nós - nem todo. Mas como povo elas parecem ser exatas, o objeto perfeito para se desejar. Elas todas usam saias e têm um jeito de usar as saias que é como se não tivessem de saia - mas é essencial que estejam. Todo desejo já pousou vez ou outra na saia de uma japonesa. Toda imaginação, vez ou outra, debaixo. E cada cabelo ocupa seu lugar preciso, uma ordem perfeita - desordem ainda mais. Cada movimento é preciso. Podem ser precisas de controle, mas nas pernas perfeitas e no rosto sem marcas são leves e impassíveis como só pode quem sabe que tem sempre alguém se perdendo por elas. Sempre alguém batendo uma punheta ou vendendo a casa por elas. Mas o que eu queria mesmo saber é por quem se perdem as japonesas.

sábado, 12 de março de 2011

Das companhias acéticas de amor I

Acordei com vontade de, pensou um velho. Um velho qualquer, sem saber que velho e sem saber vontade de quê. Mas tinha acordado com vontade, e isso já era pra sol e chuva e fogos de artifício. Acordou querendo, sem saber, os espólios da guerra que não ia dar tempo de lutar. Acordou antes do despertador e só conseguia pensar em se matar! Nada dá mais o gosto de uma coisa que a coisa toda oposta, já dizia o velho Tao. Ou não dizia? Isso que dá não ler o Tao. Mas o velho também não tinha lido e nem sabia que ele existia, mas queria se matar e era só em se matar que ele conseguia assentar sua vontade - em se matar, e não na morte, que é tão absoluta que nem deve ser o oposto de nada. Só que não queria se matar, e achando meio absurdo e meio clichê foi tentando expulsar a idéia dos bolsos.