quarta-feira, 1 de maio de 2013

Todos se deitaram sobre a névoa


e assim viraram nota de jornal. E ele, que de fato foi até lá e se deitou em um cabo suspenso no meio da névoa - em pleno abismo de céu -, ele virou notícia de capa, de todas elas. Entrevistas. Livro. Documentário. Memória - de poucos.

            Em algum ano passado em que isso ainda era tangível, um francês com um ofício intangível cismou de ligar os topos das torres do World Trade Center com passos sobre um cabo suspenso. Alguém com uma obsessão estética e política sustentado por um cabo e por pessoas com a obsessão de obsecar-se. E é preciso obsecar-se! E ele deu risada de todos que lhe perguntaram “por quê?”, e de como o prático “por quê?” é o sangue e a fibra do país das torres. Terão se perguntado, antes das razões do equilibrista, do porquê das torres?
            Ele é gente, não há dúvida, por tentador que seja escrever um poema sobre o metamundo secreto dos equilibristas. Ele é alguém que, centrado em seu projeto de atualizar-se num mundo físico quase alheio, centrava os outros em si mesmo - dizem os que não foram centrados. Teve atritos com seus companheiros. Deixou a namorada suspensa contra sua vontade para aproveitar o sexo espontâneo de uma admiradora espontânea - e soltou o causo aos quatro ventos. Deixou-se inflar pelas atenções do mundo. Afastou-se de seus insensatos amigos. Envelheceu.
            E que importância tem saber o que aproxima essas pessoas deste mundo, se saíram dele, todos, sem precisar de razão?

A pergunta que eu tenho delas é outra. É
– o que fazem as pessoas extraordinárias quando não estão fazendo coisas extraordinárias?

terça-feira, 26 de março de 2013

O meu
isso-que-não-se-pode-nomear
é parco
disco riscado
de tudo que não foi
nomeado
por todos que não souberam
falar.

Mas
dói
neste instante
particular.

Que besta é meu verso
apertado
que só repete
as mãos atadas
diante do abraço
não dado
Das lembranças
mal caladas.

E para afrouxar o peito
veste as palavras
- assim -
amarradas.

domingo, 20 de janeiro de 2013

De onde vem a vida? Se metas se concretizam, ou quase, e nada. Se tentamos coisas novas, e na hora de tentar o medo já é menor e não é grandes coisas. Ou cresceu, e nos paraliza diante de um detalhe. E aí nada é novo, porque o medo vem quase no DNA. A vida vem, então, de um detalhe ainda mais besta.

A dor que vem de uma pancada no cotovelo lembra o corpo de que algumas dores vem de fora, do asfalto e do barro e do descuido. Nem todas são um apêndice necrosando em silêncio, um silêncio necrosando em silêncio.

A vida vem do prazer que é levar uma pancada.

sábado, 8 de outubro de 2011

Un pedo

No así,
literal
De eses que hacen reírse los nenes
Los viejos
nenes

Un pedo de
vino

Es lo que me pasa
desde que
dejé.

Un pedo de
vino
de
mate
de
música

De la música que ya me
pulsa en el
alma

Y que
todavía
no sé.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Pequeno problema filosófico durante um almoço tardio

Mesmo que por um
dia
Eu queria ser simples

Levantar de manhã e dormir à
noite

Fazer o que tem
que ser feito

Chorar o triste, sorrir o alegre
Gargalhar sem qualquer maldade

Me apaixonar direito
Com
Começo, meio e fim
Sem
Mistério

Ou ao menos sem debate sobre o mistério

Eu queria acordar um dia - de manhã - e saber deixar o mistério ser
Eu queria deixar ele sem o estorvo das palavras

Eu queria ser sem o estorvo das palavras

Mas aí eu nunca poderia dizer que
fui simples

Nunca poderia dizer que fui

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Eu vou dizer o óbvio

Do quarto que sem suas
coisas é
só espaço

Do sabonete que sem seu
uso é
só tempo

Da minha presença que sem a
sua é
só.

Eu vou dizer o óbvio

Você é presença em
                  negativo

É a malha que tem seu
cheiro

É o cheiro que tem seu
nome

É o nome que tem meu
apelo

Eu vou dizer o óbvio.

Eu jamais poderia dizer você.

sábado, 20 de agosto de 2011

Me preguntaron hoy la dirección

A mi, que en la vida siempre fui
turista
Y así tuve que
poder
contestar.

Qué curioso eso de
a veces
saber dónde está el

beso

el

aire

el

camino.