quarta-feira, 1 de maio de 2013

Todos se deitaram sobre a névoa


e assim viraram nota de jornal. E ele, que de fato foi até lá e se deitou em um cabo suspenso no meio da névoa - em pleno abismo de céu -, ele virou notícia de capa, de todas elas. Entrevistas. Livro. Documentário. Memória - de poucos.

            Em algum ano passado em que isso ainda era tangível, um francês com um ofício intangível cismou de ligar os topos das torres do World Trade Center com passos sobre um cabo suspenso. Alguém com uma obsessão estética e política sustentado por um cabo e por pessoas com a obsessão de obsecar-se. E é preciso obsecar-se! E ele deu risada de todos que lhe perguntaram “por quê?”, e de como o prático “por quê?” é o sangue e a fibra do país das torres. Terão se perguntado, antes das razões do equilibrista, do porquê das torres?
            Ele é gente, não há dúvida, por tentador que seja escrever um poema sobre o metamundo secreto dos equilibristas. Ele é alguém que, centrado em seu projeto de atualizar-se num mundo físico quase alheio, centrava os outros em si mesmo - dizem os que não foram centrados. Teve atritos com seus companheiros. Deixou a namorada suspensa contra sua vontade para aproveitar o sexo espontâneo de uma admiradora espontânea - e soltou o causo aos quatro ventos. Deixou-se inflar pelas atenções do mundo. Afastou-se de seus insensatos amigos. Envelheceu.
            E que importância tem saber o que aproxima essas pessoas deste mundo, se saíram dele, todos, sem precisar de razão?

A pergunta que eu tenho delas é outra. É
– o que fazem as pessoas extraordinárias quando não estão fazendo coisas extraordinárias?