que, pernas bambas sobre o salto, me vi cercada de espelhos e de experiência que não era minha. Pés de tênis e asfalto e chuva agora enfiados numas sandálias sem respeito, que não cedem e nunca estão afim de conversar. Ou estão, e eu que não falo espanhol. Calça comprida e salto, na falta de um vestido aéreo e de modos de menina. Falta de modos, e de lábia para embrulhar as faltas. E como é fácil para os outros! Como é fácil ser os outros! Eles nasceram sabendo! Enquanto eu caminho truncada no tablado de madeira feito bezerro neonato, tentando fazer encaixar o abraço como mandam os outros, como fazem os outros - como diz a voz sem corpo que é feita dos outros!
O cismar com o arco dos braços, o ereto do tronco, o aberto dos passos - o cismar com a educação de um corpo montado a desencaixe não me deixa abraçar.
O preocupar-me com adornos e voleios - o preocupar-me com desenhos não me deixa abraçá-lo!
O apegar-me à marcação do tempo, à fluidez do corpo, à resposta ao movimento
- O apegar-me a saber viver sem ter vivido
não me deixa abraçar
o tango.
O cismar com o arco dos braços, o ereto do tronco, o aberto dos passos - o cismar com a educação de um corpo montado a desencaixe não me deixa abraçar.
O preocupar-me com adornos e voleios - o preocupar-me com desenhos não me deixa abraçá-lo!
O apegar-me à marcação do tempo, à fluidez do corpo, à resposta ao movimento
- O apegar-me a saber viver sem ter vivido
não me deixa abraçar
o tango.